Small caps x Blue chips

04/03/2022

Uma empresa sólida, com altos índices de lucratividade e gráficos sempre ascendentes, que pague bons dividendos e garanta lucro constante – esse é o sonho de qualquer investidor em bolsa. E apenas isso: um sonho. Na prática, o cenário é instável e os rendimentos, incertos, sobretudo numa época de crise, como a que passamos. Alguns buscam a solidez nas maiores companhias da bolsa. Outros preferem ousar e investir em pequenas, mas promissoras. E agora? O cenário está mais para investimentos em small caps ou em blue chips? A InvestMais resolveu investigar, e o resultado desse confronto você confere a seguir.


Qual a melhor alternativa em tempos de instabilidade?Uma empresa sólida, com altos índices de lucratividade e gráficos sempre ascendentes, que pague bons dividendos e garanta lucro constante – esse é o sonho de qualquer investidor em bolsa. E apenas isso: um sonho. Na prática, o cenário é instável e os rendimentos, incertos, sobretudo numa época de crise, como a que passamos. Alguns buscam a solidez nas maiores companhias da bolsa. Outros preferem ousar e investir em pequenas, mas promissoras. E agora? O cenário está mais para investimentos em small caps ou em blue chips? A InvestMais resolveu investigar, e o resultado desse confronto você confere a seguir.Quem é quemAntes de analisar as vantagens e desvantagens dos dois tipos extremos de ações, convém entender seus significados. Segundo definição utilizada pela própria Bovespa, as blue chips traduzem-se em:-Ação de companhia de grande porte, com bastante liquidez no mercado de ações.-Conjunto das ações mais negociadas numa bolsa de valores.-Ação de empresa reconhecida nacionalmente, possuindo administradores e produtos renomados no mercado, com larga tradição de lucratividade e distribuição de resultados compensadores aos acionistas.A bolsa brasileira, entretanto, não se limita a esses papéis. “Existem diversas oportunidades para se obter retornos. Conhecidas como small caps, ou ativos de segunda ou terceira linhas, essas empresas, apesar da classificação depreciativa, muitas vezes, guardam verdadeiros tesouros inexplorados”, explica o especialista no assunto Anderson Lueders, especialista em small caps e autor do livro Investindo em small caps e do blog Small caps – Em busca do tesouro desprezado.Para André Paes, professor e diretor de estratégia e produtos da Infinity Asset Management, segurança e rentabilidade são dois predicados incompatíveis. “Normalmente, no mercado financeiro, a máxima de que maior risco é igual a maior retorno é sempre verdade”, acredita. “Quando você investe em empresas que estão muito tranquilas, cujo crescimento já está definido, todo mercado a conhece, analisa e precifica, a probabilidade de ganhos é menor, porém o investimento é mais seguro do que em outras companhias que não têm essa certeza, pois essas outras, as small caps, às vezes carregam riscos maiores justamente por serem empresas menores. Mas, quando você acerta bem uma análise, o setor e tudo mais, a rentabilidade delas pode ser bem maior do que a das blue chips”, afirma Paes, que defende que o investidor deve procurar ponderar o risco e o retorno.Lueders discorda e defende que a segurança das blue chips não passa de ilusão. “A segurança de uma decisão de investimento não tem relação com o tamanho da companhia. Tem muito mais sintonia com a diferença entre o verdadeiro valor da organização e o preço que se está pagando por ela. Apesar disso, há uma voz corrente no mercado que conduz as pessoas a acreditarem que as blue chips são mais seguras”, aponta Lueders, que exemplifica seu ponto de vista analisando o comportamento de uma série de empresas brasileiras durante a crise atual: “Várias blue chips sofreram fortemente com a queda da atividade global, até mesmo pela exposição externa que possuem.Em contrapartida, diversas small caps conseguiram aumentar as vendas e os lucros, apesar de os preços de suas ações terem sido impactados de forma extrema, aparentando que elas teriam prejuízos expressivos – e é essa ineficiência do mercado em precificar as ações que o investidor deve aproveitar”.Para Lueders, as blue chips se mostram mais dependentes do cenário externo, enquanto as small caps possuem maior foco no mercado interno, que, segundo ele, tem apresentado resultados muito melhores. “Além disso, a lista das maiores altas de todos os anos no mercado de ações é sempre composta de small caps que foram, num determinado momento, desprezadas. Neste ano, por exemplo, várias ações de bancos médios e construtoras apresentaram altas exuberantes – enquanto BicBanco e Paraná Banco subiram mais de 220% até o dia 16 de julho, as ações do Bradesco, uma das blue chips do setor bancário, tiveram menos de 30% de desvalorização”.LiquidezÁlvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora Corretora, tem uma visão diferente a respeito da oscilação da bolsa após o início da crise. “As small caps ficaram um pouco prejudicadas depois que começou a crise, principalmente porque a maioria delas perdeu liquidez e muitas tiveram também queda em seus preços. Mas o fundamental é que quase todas perderam liquidez, e algumas que tiveram prejuízo nesse quesito sumiram do mercado, até porque não entregaram o que prometeram na abertura de capital”, constata.Por isso, Álvaro defende que, “nesse momento, as ações que vão se beneficiar primeiro, sem sombra de dúvidas, serão as blue chips, pois elas caíram muito. Assim que a situação começar a ficar um pouco mais consistente, em termos de melhora, o primeiro volume de recursos vem para as blue chips, para ações de maior liquidez”.As small caps, para ele, são opções futuras: “Num segundo momento, as small caps que tiverem boas expectativas, governança corporativa e bons fundamentos passarão a se beneficiar, mas o primeiro é todo das blue chips e de ações mais cíclicas. Então, uma boa estratégia para o investidor seria comprar ações de maior liquidez em um primeiro momento para, depois, eventualmente recompor sua carteira, participações e investimentos considerando as small caps”.Reinaldo Domingos, professor, educador financeiro e contador, observa que há tendências para ambos os tipos de empresas. Entretanto, a preferência dele é por blue chips. “Eu sou muito conservador, por isso liquidez é uma coisa que me agrada. Esse fator é importante para mim porque, mesmo que se esteja investindo a longo prazo, na onda da crise de alguma companhia, é possível fazer dinheiro rápido. Agora, com uma reviravolta no mercado, uma ação que não tenha boa liquidez pode complicar minha vida. Eu respeito muito o dinheiro, e acredito que o grande segredo da educação e independência financeira é o respeito que você tem de ter pelo dinheiro que trabalhou para conseguir. Por isso, às vezes, ganhar pouco e sempre é melhor que ganhar muito uma vez só”, constata.Na contramão da manadaA perda de liquidez aliada à atitude de fuga de muitos investidores é um motivo a mais para Lueders confiar em small caps. “O movimento de manada, que assistimos no segundo trimestre de 2008, na fuga dos investidores da bolsa, especialmente dos estrangeiros, deixou várias small caps com preços incrivelmente baratos. Sem compradores no mercado, as ações de tais companhias chegaram a cair mais de 80%, o que abriu uma janela de oportunidade que provavelmente terá sido a melhor da década”, aponta.“O investimento em small caps bem selecionadas, fora da última moda do mercado, a médio e longo prazos, tem grande possibilidade de superar de forma relevante o ganho obtido com o investimento em blue chips”, acredita Lueders. Para ele, a bolsa oferece boas oportunidades em diversos segmentos, principalmente quando se considera o novo patamar de juros que vem se estabelecendo no País. “A queda da taxa Selic deixa os dividendos pagos pelas empresas ainda mais atrativos, e várias delas ainda possuem alto nível de dividendo em relação à cotação atual, como é o caso das companhias elétricas Coelce, Equatorial e Eletropaulo, do Banco Pine e da Eternit – todos com dividendo anual superior à Selic. Para aqueles que focam o ganho de capital, há boas oportunidades entre as empresas da construção civil, Helbor e Eztec, por exemplo, e da indústria, como a Providência”, aconselha.Entretanto, o especialista não despreza por completo as blue chips. “Haverá momentos em que elas poderão estar mais baratas, logo o investidor deve analisar os múltiplos fundamentalistas e as perspectivas futuras para aproveitar isso”, revela.DiversificaçãoApesar das claras divergências, todos os analistas concordam em um ponto: diversificar diminui riscos. “Acredito que há público para ambos os perfis de ações e que o investidor deve ter os dois tipos de empresas em seu portfolio com o objetivo de diminuir o risco”, defende o professor Paes. Ele explica que o investidor deve sentar e pensar sobre seu próprio perfil, pois não há uma resposta pronta em ações. “Se pega um cara que gosta de correr mais risco, você pode, por exemplo, pôr um pouco mais de small caps, algo como 60% para elas e 40% para blue chips. Já uma pessoa mais conservadora pode preferir 70% de blue chips e 30% de small caps”, pondera.No mercado de ações há 15 anos, Paes admite ter ações das duas vertentes e revela que até mesmo a idade do investidor pode interferir na decisão de compra. “O público mais agressivo geralmente é formado por jovens, que procuram empresas mais novas, até mesmo small caps. Como sou professor, entrevisto muita gente, conheço várias pessoas que trabalham com isso, e o que acontece: o investidor agressivo busca companhias novas, segue a onda de empresas que tenham growth muito grande. Prefere mais as organizações que estão entrando no mercado do que as mais antigas e tradicionais, por exemplo, as do setor elétrico, que são mais conservadoras”, explica.O gosto por empresas “mais modernas”, segundo Paes, vem da familiaridade com o produto ou serviço ofertado por elas. “O público jovem gosta de companhias novas, mais high-tech, de tecnologia, internet, pois têm mais a ver com seu perfil. Entretanto, o investimento nelas acaba tendo um pouco mais de risco, pois são empresas que estão começando. Geralmente, IPOs são small caps, e essas empresas carregam um pouco mais de risco, até mesmo na própria precificação, devido ao fato de estarem iniciando suas negociações no mercado”, diz.Grafistas de fora do confronto – “Ação boa é ação que sobe”Entre os analistas gráficos, há um consenso: não se pode rotular empresa alguma apenas por seu tipo. “Escolher se você deve investir em uma small cap ou blue chip depende de várias coisas: do mercado; companhia; do cenário macroeconômico, setorial e microeconômico e da sazonalidade. Algumas coisas são padrão, mas rotular um papel ou dizer que ele tem determinada característica é generalizar demais – eu não acredito nisso”, explica Marcelo Coutinho, especialista em análise gráfica.A escolha de uma empresa, na visão de Coutinho, deve seguir o perfil do investidor. “Depende do tipo de especulação que ele vai fazer, do tempo que irá segurar o papel, do viés que segue, etc., pois há investidores que adoram ações que pagam dividendos, enquanto existem outros que não se preocupam com isso. Se o papel é uma blue chip ou small cap, para mim, pouco importa. Se eu comprar e ele subir, os dois são bons”, aponta.Não há, na visão do especialista, um padrão de comportamento específico para blue chips e tampouco para small caps. Para Coutinho, o que vale é a figura gráfica da empresa. A partir daí, o profissional analisa o padrão gráfico tentando entender em que momento a companhia está. São seis as etapas possíveis, segundo a Teoria de Dow: acumulação, alta sensível e euforia, que são as três primeiras fases de alta, e distribuição, finalização e pânico, que são as de baixa. “A sazonalidade da ação depende de vários fatores, há repetições que são mais curtas e outras mais longas, mas todo papel passa por essas seis fases”, finaliza Coutinho.Fonte: http://www.revistainvestmais.com.br/artigo/79-Small+caps+x+Blue+chips.html

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